O princípio VII da Declaração Universal dos Direitos da Criança, aprovada por unanimidade pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 1959, já estabelece: toda criança tem direito ao lazer infantil. Brincar é essencial para o desenvolvimento do seu filho – e o valor da brincadeira não pode ser subestimado.
Brincar tem um viés que vai muito além da simples fantasia. Enquanto um adulto vê apenas uma criança empilhando bloquinhos, para o pequeno aquilo significa experimentar as possibilidades de construir e conhecer novas cores, formatos e texturas. “Para a criança, brincar é um processo permanente de descoberta. É um investimento”, explica Tião Rocha, antropólogo, educador popular e folclorista, fundador do Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento, em Minas Gerais.
“A criança que brinca vai ser mais esperta, mais interessada e terá mais facilidade de aprender – tudo isso de forma natural”, diz Ruth Elisabeth de Martin, pedagoga e educadora do Labrimp (Laboratório de Brinquedos e Materiais Pedagógicos da Universidade de São Paulo).
Desenvolvimento
A literatura e as pesquisas demonstram que brincar tem três grandes objetivos para as crianças: o prazer, a expressão dos sentimentos e a aprendizagem. “Brincando, a criança passa o tempo, mostra aos pais e professores sua personalidade e descobre informações”, resume Áderson Costa, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília.
Crianças menores, mesmo na companhia de outras, costumam brincar sozinhas. Para elas, o ideal são brincadeiras que estimulem os sentidos. Através deles, elas exploram e descobrem cores, texturas, sons, cheiros e gostos.
Por volta dos 3 anos elas desenvolvem outro tipo de brincadeira: o faz de conta. Imitar situações cotidianas – como brincar de casinha ou fingir que é o motorista de um ônibus – permite que as crianças se relacionem com problemas e soluções que passam do fazer imaginário para o aprender real.
A partir dos 5 anos, os pequenos estão aptos para incluir o outro nas brincadeiras. “É a fase em que elas deixam de brincar ao lado de outras crianças e passam a brincar com outras crianças”, explica Maria Angela Barbato Carneiro, coordenadora do Núcleo de Cultura e Pesquisas do Brincar da Pontifícia Universidade de São Paulo.
Vale lembrar que o desenvolvimento infantil é individual. Algumas crianças começam a brincar com outras mais cedo, outras mais tarde – não há motivo para preocupação.
Como incentivar seu filho a brincar
Estabelecer um horário diário ou semanal para brincar com seu filho é o primeiro passo para garantir que ele faça esta atividade com frequência. Muitos pais lotam a agenda dos filhos com afazeres extracurriculares, o que extingue o momento da brincadeira. “Toda agenda de criança deve ter um espaço diário para não fazer nada – é aí que surge o espaço para brincar”, orienta Áderson.
Participar da brincadeira dos filhos também dá uma vantagem aos pais: conhecê-los melhor. Como a criança se expressa brincando, os pais observadores descobriram as vulnerabilidades e os pontos fortes de seus filhos. “Brincar juntos aumenta o grau de confiança e o vínculo entre pais e filhos”, diz.
Dar brinquedos de diferentes materiais e tipos também é recomendável. Por isso, nada de entupir a menina só com bonecas e chegar com um carrinho debaixo do braço a todos os aniversários do menino. As crianças precisam experimentar de tudo. “Cada brinquedo traz uma mensagem e vai despertar o interesse e a curiosidade de alguma forma”, ressalta Ruth.
O importante é o brincar, e não o brinquedo. É possível improvisar brinquedos com uma fruta, uma caixa de papelão vazia ou o que quer que esteja à mão. E não se preocupe se não puder dar a seu filho aquele carrinho movido a pilhas de última geração. “Só na visão do adulto um brinquedo eletrônico é divertido. Para a criança, brinquedo que brinca sozinho é enfadonho”, completa Tião.
As brincadeiras ideais para cada faixa etária
Reunimos algumas recomendações de especialistas sobre as brincadeiras mais adequadas para cada faixa etária. O desenvolvimento infantil é individual, mas as crianças passam, cada uma a seu tempo, pelas fases abaixo. Todas as atividades devem ser desenvolvidas sob supervisão de um adulto e nos ambientes adequados.
Até os 2 anos
Nesta fase, a brincadeira tem que estimular os sentidos. Correr, puxar carrinhos, escalar objetos, jogar com bolinhas de pelúcia são atividades recomendadas.
3 a 4 anos
Começam as brincadeiras de faz de conta. As crianças respondem a brincadeiras de casinha, de trânsito, de escolinha e de outras atividades cotidianas.
5 a 6 anos
Os jogos motores (de movimento) e os de representação (faz de conta) continuam e se aprimoram. Surgem os jogos coletivos, de campo ou de mesa: jogos de tabuleiro, futebol, brincadeiras de roda.
7 anos acima
A criança está apta a participar e se divertir com todos os tipos de jogos aprendidos, mas com graus de dificuldade maiores.