O brincar é uma das formas mais peculiares de expressão das crianças desde muito pequenas. É por meio do brincar que ela expressa seus desejos, fantasias, saberes e fazeres. Todas as crianças têm o direito ao brincar garantido em instrumentos legais de âmbito nacional e internacional, tais como a Declaração Universal dos Direitos da Criança, a Convenção de Direitos da Criança da ONU e o Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei nº 8069/90.
Precisamos pensar o quanto nós, adultos, temos respeitado, valorizado e contribuído para garantir esse direito nos espaços familiares, em instituições educacionais e diferentes espaços públicos e privados.
Para que o tempo do brincar cotidianamente seja entendido como essencial, é importante considerá-lo enquanto expressão infantil altamente significativa para o desenvolvimento integral das crianças. Brincando elas mobilizam e ampliam habilidades, como as sociais, afetivas, cognitivas e motoras que, certamente, influenciarão o desenvolvimento do pensamento, da linguagem, da imaginação e da criatividade.
Ao brincar as crianças negociam, fazem escolhas, opinam, se encantam, se alegram e aprendem a conviver com as diferenças. Logo, elas vivenciam a solidariedade, a alegria, a justiça, a co-construçāo de regras e responsabilidades, fundamentais para o seu desenvolvimento afetivo, ético, político e moral.
Mesmo sendo um direito de todas as crianças, o brincar muitas vezes tem sido reduzido a um tempo curto da rotina, por vezes entendido como premiação para determinados comportamentos e relacionado a brinquedos, induzindo ao consumo infantil.
Priorizar o brincar espontâneo e não estruturado, disponibilizando tempo e variedade de materiais para que ela possa exercitar sua imaginação e criatividade, sem ênfase a brinquedos eletrônicos ou altamente elaborados, é permitir que as crianças ampliem as possibilidades de criar e vivenciar experiências ricas e significativas. Reduzir o tempo para o brincar com jogos eletrônicos e ampliar os tempos para o brincar com outros brinquedos e materiais, assim como, com outras pessoas no fortalecimento das relações intergeracionais – entre crianças mais novas e maiores, entre crianças e adultos, entre crianças e idosos – também será essencial e poderá fortalecer a valorização do outro, de outras formas de brincar e o resgate de brincadeiras tradicionais.
E, por fim, acreditamos que nos tempos atuais é importante rever nossas opções de lazer nos momentos em que estamos com as crianças. Logo, substituir o passeio aos shoppings centers aos finais de semana em companhia das crianças, pelas brincadeiras nos parques das cidades, na busca de outras formas de organização dos tempos para o brincar, com momentos amplos e livres, poderá ser um programa mais que interessante, deixando marcas bastante significativas para toda a vida.